Leia o post original por Vitor Birner
De Vitor Birner
Kaká muito bem, Kardec razoável e mais ninguém.
A estreia de Kaká foi boa.
Liderou o time, se movimentou de maneira inteligente em busca de espaços, participou da criação e dos desarmes, e entrou na área para finalizar.
Amargou a derrota na breve volta aos gramados brasileiros por causa dou mau futebol de seus companheiros.
Ganso ficou perdido na criação.
Se tiver auto-crítica, perceberá que necessita correr mais e de maneira certa para o sistema ofensivo conseguir o ajuste fino que exige a sincronia dos trabalhos dele e do ex-milanista.
Ademilson, um dos erros de escalação de Muricy, jogou como de costume e por isso não pode ser elogiado.
O treinador o escolheu porque o jovem revelado em Cotia atua dos lados do campo e entra na área para executar a função de centroavante.
Apostou na movimentação dele e viu Ademílson se mexer aquém do necessário e de maneira pouco perspicaz.
O substituiu por Pato e a estrela da reserva falhou, como de costume, nos passes e finalizações, além de “não sentir o jogo” como se diz no futebolês.
Mesmo com o apoio constante de Souza e Alvaro Pereira, e moderado de Rodrigo Caio e Douglas, e com muito tempo de posse bola, o São Paulo não criou nada no 1° tempo e menos que o necessário no segundo diante da forte marcação do Goiás.
Apenas o Kardec ajudou um pouco o Kaká.
Tentou realizar o trabalho de pivô em diversos locais do campo para dar opção aos meias, além de também cooperar nos desarmes.
Muricy mudando
A proposta de jogo ofensiva, na qual o time tem bastante tempo de posse de bola e presença de vários atletas no campo de ataque, pode até vingar, mas não será o bastante para o São Paulo comemorar o hepta.
Você lembra de alguma agremiação campeã nos últimos anos que não sabia marcar direito a jogada aérea, com recuperação defensiva lenta depois de perder a bola no ataque, e que deixa de vez em quando muito espaço entre o meio-campo e a primeira linha defensiva?
Não existe.
Por isso, corrigir os problemas defensivos deve ser a prioridade do técnico.
Se obtiver êxito terá alicerces sólidos para a boa campanha.
O São Paulo vai fazer gols na maioria dos jogos do Brasileirão.
A questão é quantos ira sofrer.
Um time alto como o dele não pode sofrer gols de cabeça toda hora.
O segundo no confronto diante dos esmeraldinos foi decorrência de falta de atenção.
Mundo real
Bastou o Goiás marcar direito e aproveitar os erros do rival para vencer.
Praticamente abriu mão até do contragolpe para fortalecer a parte defensiva.
Atuou pela tal da ‘uma bola’ e isso bastou.
Não havia balançado as redes e nem deixado os rivais fazê-lo nas duas partidas anteriores.
Marcou dois gols contra o São Paulo, não por acaso.
Muricy precisa priorizar os ajustes defensivos.
Só assim terá o alicerce para vencer jogos enquanto o sistema ofensivo se entende.
Para ser mais claro
Vamos supor que o sistema ofensivo do São Paulo tivesse atuado todo em alto nível e balançado as redes três vezes.
É improvável alguém ser campeão no torneio de regularidade vencendo constantemente por 3×2, 4×2, 5×3…
Exemplos
Na era do campeonato brasileiro por pontos corridos, ter o melhor desempenho defensivo sempre foi enorme virtude.
Apenas duas vezes os times que tomaram menos gols encerraram o torneio abaixo da terceira colocação.
O São Caetano, em 2003, e o Corinthians de 2013 foram os privilegiados.
Na última Premier League, o campeão Manchester City só levou mais gols que o Chelsea, terceiro colocado.
Na Bundesliga, o campeão Bayern de Munique teve o melhor desempenho defensivo. Sofreu 15 gols a menos que o Borussia Dortmund, o segundo lugar.
Na Espanha, o campeão Atlético de Madri foi quem sofreu menos gols. Foram 26 gols contra 33 do Barcelona e 38 do Real Madrid, respectivamente segundo e terceiro lugares.
O time de Simeone balançou as redes 77 vezes contra 100 do Barça e 104 do Madrid.
Na Itália, a campeã Juventus tomou 23 gols e a Roma, que ficou logo atrás, levou 25. Ninguém tomou menos gols que eles no ‘calcio’.
Na França, o PSG foi campeão sofrendo 23 gols. O Lille, terceiro lugar, levou 26, o Monaco segundo colocado, 31, e o Saint Etienne, que terminou quarta posição, 36. Todos os outros times tomaram no mínimo quarenta.
O Cruzeiro conquistou o título, ano passado, com o terceiro melhor trabalho defensivo. Levou 37 gols, vários depois de assegurar o bicampeonato; o Grêmio, vice-líder, levou 35 e teve também o segundo melhor desempenho sem a bola.
Times vencedores no futebol moderno devem ser equilibrados.
Equipes que tomam muitos gols nunca são assim.
Como no esporte nem sempre a lógica prevalece, haverá exceções entre os campeões.
Bons planejamentos e trabalhos não se baseiam nelas.
Maneiras
Há formas distintas de fortalecer a marcação.
Pode ser como a do Barcelona de Guardiola com ocupação de espaços no campo de ataque, ou tal qual Argentina (no mata-mata) e Costa Rica fizeram no Mundial atuando atrás e contragolpeando, ou tal qual o Real Madrid de Ancelotti, o meio termo entre ambos os estilos mais radicais.
O São Paulo de Muricy em alguns momentos se propõe a fazer como o Barça e noutros tal qual o Real Madrid, ambas sem competência.
Aviso aos complicados
Se defender direito não significa atuar com medo ou deixar de fazer gols.
Futebol é uma guerra lúdica por espaços com e sem a bola.
O fato de um time ocupá-los de maneira correta não o impede, se tiver bons atletas no trato dela, que será ruim na parte ofensiva.
Escrevi isso para evitar alguns comentários padrão e sem embasamento.
O clichê velho e obsoleto não combina com a realidade em campo.