Leia o post original por Luiz Nascimento
Após o presidente do clube, Ilídio Lico, cometer uma gafe e dizer que ele era o “plano C” para a comissão técnica, a diretoria da Portuguesa acertou a contratação de Ailton Silva. Ele afirmou na terça-feira (16) que desejava um profissional “de mais nome”, no patamar de Gilson Kleina. Com um currículo recheado de equipes do interior e de times das categorias de base, Ailton trabalhou com jovens no Palmeiras, no São Bento e no Santo André. Ele retorna ao Canindé após ter comandado o Sub-17 da Lusa em 2010. O técnico também teve passagens por Mogi Mirim e Ferroviária.
Ailton Silva ainda se reunirá com os diretores da Portuguesa para tratar de contratações. No entanto, a lista de atletas do atual elenco que podem permanecer no clube já está pronta. O objetivo é mesclar as jovens pratas da casa com contratações modestas, tendo à frente do elenco um profissional acostumado a disputar divisões inferiores e, inclusive, a própria Série C do Campeonato Brasileiro. Emerson Leão, um dos cobiçados pela Lusa, trabalhou ao lado de Ailton.

O treinador de 48 anos não tem grandes conquistas no currículo, assim como nunca assumiu clubes de maior porte. Ainda jovem, teve atuações apagadas em times do interior de São Paulo. No São Caetano, por exemplo, desempenhou um trabalho razoável, mas sem conquistar o acesso. Na Ferroviária, rescindiu contrato após sucessivos maus desempenhos do time. Ailton Silva, porém, integra a galeria de treinadores para os quais é vantagem trabalhar na Portuguesa.
Na atual situação do clube, na qual uma Série A1 de Campeonato Paulista é a vitrine mais atraente, muitos nomes conhecidos que estão no mercado sequer cogitam desembarcar no Canindé. Mesmo que tivessem boa vontade, a grave crise financeira impediria o acerto de salários. E, ainda que assumisse o elenco, logo perceberia que entrou em uma barca furada guiada pelo amadorismo e pelo retrocesso. Os problemas lusos estão cada vez mais evidentes, afastando profissionais e parcerias.
Claro que, olhando o leque fácil apresentado por agências e empresários, surgirão inúmeros nomes que ainda não despontaram. Há também a opção de correr atrás de velhos amigos, conhecidos, gente que já passou pelo clube. O problema é: qual a garantia de que essa aposta em alguém desconhecido e pouco habituado a dirigir clubes como a Lusa vai dar certo? Já que se vai atirar no escuro, não seria melhor tentar lançar um ex-jogador como técnico do time?

Ao menos haveria identificação com a Portuguesa e com a torcida. Inclusive, algo tão em falta nas alamedas do Canindé nos últimos anos. Após uma temporada na qual os jogadores e as comissões técnicas não demonstraram qualquer preocupação com o rebaixamento do clube, o comprometimento com a história da Lusa seria crucial. Afinal, falamos de um torneio em que as chances de cair para a A2 são enormes e de outro onde a possibilidade de subir não é, nem de longe, grande.
Sabedores dos problemas financeiros que perdurarão ao longo dos próximos meses, seria melhor apostar em alguém que conhece o clube e tem algo a perder – nem que seja a reputação no Canindé – caso o fracasso venha. Se fosse para trazer alguém com perfil para as atuais circunstâncias ou algum nome claramente novo de mente arejada, tudo bem. No entanto, essa aposta no simpático e barato, justificando pelo contexto de crise, não passa uma boa impressão para o futuro.
Se a escolha do treinador já foi motivada por esses aspectos, sem qualquer criatividade ou planejamento aprofundado, imaginem a formação do elenco. No Canindé, nada parece ser tão ruim a ponto de que não possa piorar. Os poucos lusitanos que ainda acompanharão a Lusa certamente torcerão para que Ailton Silva surpreenda e tenha sucesso. Afinal, não há nada contra o treinador. Mas, sim, contra a incompetência e a falta de visão que reina entre os “homens da carteirinha”.