Leia o post original por Antero Greco
O Santos tem o estilo que mais aprecio, na história recente do futebol doméstico. Não há como não gostar de uma equipe que tem Neymar e Ganso a desfilar arte, atrevimento e graça com a centenária e célebre camisa branca (ou azul celeste, como inventaram agora). Quem curte o joguinho de bola, se curva ao talento desses rapazes – e de vários outros que completam o elenco.
Admitir, então, o Santos como favorito ao terceiro título paulista na sequência é ato de bom senso e embute baixíssimo risco de erro. Equivale ao sujeito que tem um dinheiro extra na conta e opta por guardá-lo na caderneta de poupança. Sabe que o rendimento será pequeno, conservador, porém seguro. Bom, talvez no momento o exemplo não seja o mais adequado, com essas mudanças na economia. Enfim, você é leitor inteligente e entendeu o que quis dizer. Time por time, o Santos é melhor do que o Guarani. Só com muito espírito de porco para afirmar o contrário.
Isso significa que o Guarani não possa faturar a taça? De jeito nenhum. Se fosse pensar assim, melhor nem entrar em campo e dar logo o troféu para o adversário poderoso. Economizaria tempo e desgaste, passava a régua e tocava a vida em frente. O verde campineiro pisa no gramado do Morumbi, hoje e no domingo que vem, como azarão, franco-atirador, zebra ou sei lá o que mais. E que não se considere diminuído com isso. A constatação deve funcionar como estímulo adicional nos jogos finais.
Não duvido da capacidade de Neymar e sua turma para desmontarem defesas. Isso é rotina para eles. Mas, por que não dar um crédito para as flechadas bugrinas? Há uma mescla interessante de experiência e juventude. Atletas em torno dos 30 ou pouco mais (como Emerson, Domingos, Bruno Recife) mostram sintonia com jovens como Bruno Mendes (adolescente de 17 anos) ou Medina, 21, e herói do dérbi com a Ponte Preta na semana passada.
Eles têm Osvaldo Alvarez a orientá-los. Se é garantia de título, os credencia a bom papel nos confrontos decisivos. Vadão é desses treinadores obstinados e subestimados como há tantos pela vida. A carreira foi marcada, de maneira positiva, com o Carrossel Caipira do Mogi Mirim dos primeiros anos 1990. Merecia mais – e talvez as oportunidades não tenham sido bem aproveitadas.
Surge a chance de conquista com o Guarani, num desafio e tanto. Espero que Vadão não abandone a ousadia, qualidade das mais apreciáveis dos times que comanda. Não é preciso temer excessivamente o Santos nem apelar para retranca. Uma dose justa de cautela e criatividade podem ser fundamentais no jogo de hoje. Com vibração complementar na semana que vem – e Campinas enfim terá o título paulista. Delírio? Não, uma possibilidade.
Mundo curioso. Leitores, ouvintes, telespectadores em geral especulam muito a respeito dos times para os quais pende o coração do cronista esportivo. Estou há tanto tempo na profissão que considero supérflua essa informação. O profissional de imprensa deve ser apreciado ou criticado pela qualidade da opinião, pelo conhecimento que demonstra a respeito dos assuntos que aborda, pelo rigor na apuração dos fatos. Sem contar isenção e honestidade, que não são qualidades, mas obrigação em qualquer atividade. A paixão clubística jamais deve escorrer pelo teclado ou pelo microfone. Em resumo: cronista é cronista, torcedor é torcedor. Quando um e outro se confundem, perdem o público e o jornalismo.
*(Minha crônica no Estado de hoje, domingo, dia 6/5/2012.)